Em sua maioria, estudos realizados com insetos têm como passo inicial o estabelecimento de uma criação em laboratório, com o objetivo de padronizar e controlar variáveis nos ensaios. Os insetos criados nesse ambiente controlado apresentam homogeneidade de idade, alimentação e condições climáticas, como temperatura, umidade e fotoperíodo.
A criação de insetos em laboratório é fundamental para o desenvolvimento de pesquisas que visam fornecer subsídios para o conhecimento e manejo de pragas agrícolas, como o percevejo-marrom, Euschistus heros, atualmente uma das principais pragas da sojicultura.
Para a criação do percevejo-marrom, pode ser utilizada tanto uma dieta artificial quanto a dieta natural, dependendo da influência da alimentação no estudo a ser realizado. A dieta natural é composta por vagem de feijão e sementes de amendoim e de girassol, e água. Nas gaiolas com adultos, ainda é colocado algodão como substrato para a oviposição.
Uma vez por semana essas gaiolas são trocadas, sendo renovados os alimentos, a água e algodão. Os ovos são removidos do algodão e acomodados em placas de Petri com papel filtro umedecido. Após emergência das ninfas, as mesmas são colocadas em gaiolas maiores e recebem a mesma alimentação dos adultos.
Para estudos de simbiontes (bactérias) presentes no aparelho digestivo do percevejo-marrom, tema na qual tenho dedicado meus estudos nos últimos anos, se faz necessária a utilização de uma dieta natural livre de compostos antimicrobianos que poderiam interferir na microbiota intestinal.
Pentatomídeos (percevejos da família de insetos cientificamente conhecida como Pentatomidae) estão comumente associados a bactérias extracelulares presentes nas invaginações da região final do intestino médio (V4). Mas pouco se sabe sobre a sua diversidade e função.
Alguns estudos demonstram potencial de contribuição nutricional e de prevalência dessas bactérias em populações naturais do percevejo. Esses resultados indicam uma interação íntima entre E. heros e os simbiontes do V4, interação essa que pode ser alvo para o desenvolvimento de novas estratégias de manejo.
Wanessa Scopel
Engenheira Agrônoma
Doutora em Entomologia
Pós-doutoranda no Departamento de Entomologia da ESALA/USP.
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